Eu fechei todas as portas e janelas de casa, sentei na poltrona azul da sala observando a chuva caindo torrencialmente, através do vidro da janela, e ouvindo o barulho, abafado pelo forro, dos seus pingos no telhado.
Eu vejo inúmeras lembranças sendo reproduzidas na minha mente como um caleidoscópio, e sinto como se o ar estivesse se extinguindo dos meus pulmões, embora haja ar suficiente e puro para inspirar.
A verdade é que ninguém nunca está preparado para ser machucado, muito menos quando a porrada vem de onde a gente menos espera, pior ainda de uma parte em que depositamos tanto amor.
Eu começo a lutar pelo ar, inspiro profundamente e vou enchendo meus pulmões e toda minha existência de uma verdade inegável: nada nunca mais será como antes.
E preciso encarar isso da melhor maneira possível: com os olhos abertos a tudo o que posso aprender e com o coração bem guardado para a autocura.
É difícil viver em um mundo injusto e cruel, quando você tenta enxergá-lo sempre da melhor forma, mesmo quando ele te mostra todas as suas piores partes.
Acima de tudo, não se trata do mundo, mas de quem somos, em essência, apesar dele.
E no momento, eu sou a chuva torrencial que molha o teto, eu sou as lembranças, a luta, eu sou o ar que preciso respirar... Sou eu sentada na poltrona azul que escolhi para combinar com as cortinas brancas, e também sou as flores que crescem em volta da minha casa para me manter protegida.
Eu sou tudo o que é capaz de manter minha sanidade e guardar minha essência: somente, eu mesma.